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Do Vine até os VMAs: Como Shawn Mendes venceu a maldição do “cantor-de-um-hit” (TRADUÇÃO MATÉRIA VARIETY)

Com apenas 20 anos Shawn Mendes teve um crescimento estratosférico, e não podia ter acontecido com uma pessoa mais legal.

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Jem Aswad

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Peggy Sirota

“Eu caí de bunda no chão na frente de 80 mil pessoas”. Shawn Mendes, cantor, compositor e estrela em ascensão aos 20 anos de idade, respira fundo e pega seu celular. “Olha isso cara”. O tombo, imortalizado no Instagram durante o Festival d’été no Quebec mês passado, com certeza ficou marcado como o “momento mais vergonhoso” de sua vida profissional até agora. “Eu estava tão animado que não percebi a altura da onde estava pulando, e Dave Grohl estava do lado do palco, assistindo”, Mendes continuou. Constrangido que o lendário vocalista do Foo Fighters e o atual baterista do Nirvana testemunharam seu tombo, sem contar os milhares de canadenses na platéia. “Foi… incrível”.

Se a humildade faz parte da estratégia da carreira de Mendes, está funcionando. Mas ele cita imediatamente outra situação no mesmo festival que aconteceu na noite seguinte. Durante o show do Foo Fighters, Grohl  diz às 80 mil pessoas: “Shawn Mendes é mau pra caralh*. Sabem por que? Porque ele me tocou”.

Apesar da indelicadeza da frase, Mendes disse que “essa foi a coisa mais legal que alguém jamais vai dizer sobre mim, um milhão de vezes”. A frase representa um momento muito importante e um enorme passo para frente em uma das transições mais difíceis para um artista: a passagem de estrela teen para, particularmente estrela teen viral, para um artista de carreira.

As falhas, especialmente na música, são muitas —  qual ex-adolescente famoso destruiu seu caminho para o TMZ esta semana? — os sucessos são poucos, e a “jornada” normalmente é turbulenta. Justin Bieber, Britney Spears, Christina Aguilera; até o aparentemente imbatível Justin Timberlake teve que se explicar após os problemas de guarda-roupa da Janet Jackson no Super Bowl 14 anos atrás.

Mas mesmo tendo esses parâmetros, Mendes chegou ao topo das paradas em pouquíssimo tempo — 15 bilhões de streams globalmente, teve três álbuns no topo e três Top 10 singles na Billboard, teve turnês globais que o levaram a esgotar o Madison Square Garden em Nova York e a O2 Arena em Londres, além de se apresentar para mais de 120 mil pessoas no Rock in Rio no Brasil ano passado. Ele até fez um show para o aniversário da rainha Elizabeth em abril.

Sua história de origem parece pouco promissora singularmente em termos de longevidade: Ele subiu para o estrelato da internet aos 14 anos quando postava dezenas de covers de seis segundos de Bieber, Ed Sheeran e Adele na já morta plataforma de vídeos, Vine. O vídeo  de seu primeiro single em 2014, ironicamente intitulado de “Life of the Party”, mostra sua cara fresca de adolescente andando pelo bairro caçando uma festa, se sentindo como um estranho de fora.

E ainda quatro anos depois, seus ídolos — Sheeran, Taylor Swift, John Mayer, até Elton John — são seus amigos e/ou colaboradores, e em seu novo álbum (o qual, em um óbvio sinal de repaginada, é um álbum auto-intitulado mesmo sendo seu terceiro estúdio LP) vemos ele adentrando no rock e no R&B, fazendo uma forte jogada para ir além de seu estilo inicial pop, adolescente e focado em mulheres, para um público mais global e adulto.

Shawn Mendes phorgraphed by PEggy Sirota in Los Angele, CA on July 12, 2018 – Styling: TIFFANY BRISENO Grooming: Anna Bernabe/Exclusive Artists/Oribe Hair Care & Kypris Beauty; Jeans: Just Jeans; Belt: The Kooples; Shirt: Givenchy; Boots: Saint Laurent

“Mayer é uma pessoa incrível para se idolatrar”, diz Mendes, “porque ele tinha uma fanbase inteira quando era mais jovem, e agora ele tem 40 anos e todas aquelas pessoas continuam amando ele, mas sua música transcendeu o tempo e as gerações. É tão impressionante poder fazer isso – se tornar algo diferente sem perder essas pessoas.

Elton John está dentre aqueles que Mendes admira para uma carreira. “Para alguém tão jovem, ele já conquistou coisas extraordinárias e profissionais”, ele conta a Variety. “Ele me impressionou com sua habilidade de crescer como artista gravado, e especialmente ao vivo. Um futuro incrível espera por ele”.

Então o que Mendes fez de tão certo? Sim, ele é talentoso; sim, ele tem quase que uma beleza clássica; e sim, ele cresceu incomumente rápido em cinco anos. Mas talvez seja mais que isso, desde os primeiros dias ele demonstrou um equilíbrio, uma confiança e, não menos importante,

uma determinação feroz que o diferencia – não apenas como artista, mas como uma figura pública experiente que sabe cultivar e manter fãs, criando uma conexão.

Quando o empresário de Shawn, Andrew Gertler, o descobriu no Youtube em 2014, o cantor adolescente tinha quase um milhão de seguidores no Vine e cerca de 400 mil seguidores no Twitter, fazendo tudo da casa de seus pais em Pickering, Ontario. “Eu fiquei imediatamente impressionado pela voz dele”, se lembra Gertler, “e vi que ele tinha fãs extremamente fervorosas que eram tão apaixonadas e se conectavam com ele pessoalmente. Mas o que me marcou muito foi quando falei com ele vi o quão focado ele era, como um laser. Fiz uma ligação por Skype com ele e a mãe dele, e ele estava tão curioso e disposto a aprender. Aquela humildade de, ‘como eu faço isso?’, me disse esse é um artista único na vida, esse cara vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ser excelente ”.

Com o apoio de seus pais, Mendes rapidamente se uniu ao então Gertler de 25 anos, que trouxe sua própria equipe para agir. O amigo de Gertler, Ziggy Chareton, representante da A&R, já estava a bordo: Durante a faculdade, os dois tinham estagiado na Atlantic Records para o vice-presidente de marketing Eric Wong, e nesse momento tanto Chareton quanto Wong estavam trabalhando na Island Records (e agora são vice-presidente executivo e oficial de operações, respectivamente). Enquanto várias gravadoras manifestaram interesse em Mendes, ele sentiu uma ligação com o então CEO da empresa, David Massey, que ao longo de sua carreira trabalhou com muitos jovens artistas (Jonas Brothers, Good Charlotte, Demi Lovato) e cuja mãe havia sido empresária da cantora adolescente Lulu. Mendes também mostrou mais do que um pouco de astúcia ao tocar um cover do hit Wonderwall, do Oasis, em sua primeira reunião com Massey, que havia trabalhado com a banda britânica com a Sony nos anos 90.

“Eu sabia nos primeiros dois minutos que ele era uma estrela”, disse Massey. “Quando você tem esse tipo de artista, precisa pensar nos maiores termos possíveis, e foi isso que fizemos desde o primeiro dia”.

 

“Eu quero me forçar até o limite e fazer o máximo de shows e escrever o máximo de músicas que puder e viajar ao redor do mundo 10 mil vezes por ano”.

 

Em poucas semanas, o Mendes de 15 anos já se preparava para o estrelato: quando ele terminou seu segundo ano do ensino médio, Island lançou “Life of the Party” e em poucos minutos a música subiu para o primeiro lugar no iTunes. Esse sucesso preparou o caminho para sua primeira grande turnê – uma abertura no verão de 2014 para o cantor pop teen Austin Mahone – na qual ele encarou audiências de milhares de pessoas apenas com seu violão. Na estrada conheceu sua amiga e colaboradora, Camila Cabello, na época membro do outro ato de abertura, Fifth Harmony.

“Depois ele me disse que aquela seria a primeira vez dele se apresentando no palco, e as mãos dele estavam tremendo enquanto ele tocava o violão”, Cabello contou para Variety.

No entanto, ele ganhou confiança rapidamente e tendo ajuda de importantes colaboradores que permanecem com ele hoje – especialmente os compositores Teddy Geiger, Scott Harris e Geoff Warburton – seu primeiro álbum, “Handwritten”, estreou em primeiro lugar na parada de álbuns da Billboard 200 em abril de 2015, contando com seu maior sucesso de ascensão, “Stitches”.

Gertler considera o próximo passo como um grande marco na carreira de Mendes: vários meses se apresentando na abertura da turnê “1989” de Taylor Swift, escolhido pela própria cantora. “Naquela primeira noite, eu nunca havia visto ele tão nervoso – ‘Estou abrindo para Taylor na frente de 60.000 pessoas por noite em um estádio, e sou apenas uma criança com um violão”, Gertler recorda. Mas Mendes aceitou o desafio e estudou atentamente o set de Swift. “Ele assistiu todas as músicas, todos os shows, se imaginando naquele lugar”, diz Gertler. “Era como ver uma mistura de um aluno em sala de aula e alguém curtindo um show. Demorou cinco ou seis shows para o nervosismo ir embora, mas eu acho que isso fez dele o incrível cantor que é agora. ”

Essa visão a longo prazo e a determinação da força de furacões se tornaram marcas de sua carreira. Perguntado por que ele acha que Mayer e Sheeran o incluíram, ele diz: “Eu acho que talvez John e Ed tenham visto algo em mim que eles viam neles si mesmos, que é um desejo de ser incrível. Não é algo que você pode adquirir, e talvez seja raro. Eu encontro muitas pessoas que perguntam: ‘Como eu faço o que você faz?’ e nos primeiros 10 minutos de conversa, a partir do jeito que eles falam sobre música, eu consigo ver o quanto que eles querem aquilo. Mas é algo que você meio que nasce, sempre tem”.

Cabello viu de perto o compromisso que Mendes tem com a música. “Quando estávamos em turnê juntos eu nunca via ele”, ela diz. “Ele ia para o ônibus de turnê e praticava violão, depois subia ao palco e depois voltava para praticar violão. Ele é a pessoa mais dedicada e motivada que conheço”.

Shawn Mendes phorgraphed by PEggy Sirota in Los Angele, CA on July 12, 2018 – Styling: TIFFANY BRISENO Grooming: Anna Bernabe/Exclusive Artists/Oribe Hair Care & Kypris Beauty; Jeans: Just Jeans; Belt: The Kooples; Shirt: Givenchy; Boots: Saint Laurent

Darcus Beese, se tornou CEO da Island Records mês passado, disse: “Na primeira vez que conheci Shawn, fiquei pensando, ‘Essa é a energia de mil sóis!’ Ele me deixou tanto exausto quanto animado”.

Swift foi a último artista para quem Mendes abriria um show: ele foi para sua primeira turnê, lançada em março de 2016 e continuou pela Europa e América do Norte. Antes de seis meses após a turnê, teve sua primeira data esgotada no Madison Square Garden. Ele rapidamente lançou seu segundo álbum, “Illuminate”, em que suas letras e músicas já estavam amadurecendo; a turnê de oito meses que se seguiu contou com ainda mais datas na Europa e na Ásia, e seu primeiro show na América do Sul.

Conforme sua fanbase aumentava exponencialmente, Mendes passou incontáveis horas cultivando-o. “As pessoas esquecem o quão importante é o trabalho de base – estar fisicamente em todas as cidades, conhecer pessoas, é como uma campanha presidencial”, diz ele, acrescentando que as interações não são invasivas. “Eu não conheço nada além disso desde os 15 anos, então não é como se eu tivesse um tempo muito privado antes e agora tenho que ser uma figura pública. Eu sempre fui assim. * Eu não acho difícil ou perturbador, e eu acho que estou bem com isso – até que eu não sou, de qualquer maneira. “

Quando estávamos no telefone com Gertler enquanto estavam na Europa, ele disse “Provavelmente há 600 fãs do lado de fora do hotel, e ele vai parar e tirar fotos e conhecer quase todos, até o ponto em que você pensa: ‘Isso é loucura! “Mas ele sente que deve algo a eles – ‘Vou levar um minuto ou 30 minutos para garantir que meus fãs saibam que são apreciados'”.

Um ritmo tão feroz não permite muito tempo para uma vida privada, Mendes reconhece. Mas ele diz que essa não é a razão pela qual ele está solteiro. “Eu não estou namorando ninguém, mas não é porque eu não tenho tempo – eu não sei se eu estaria namorando alguém se eu estivesse em casa em Pickering também”, diz ele. “Não tropeçou em mim e eu não estou perseguindo isso. Claro, vendo todos aqueles outros artistas e pessoas em relacionamentos, você pensa: “Talvez seja legal; quem seria ótimo para mim? “E é aí que você percebe:” Isso está errado. Deixa pra lá. Eu não deveria estar com ninguém agora. ‘”

Enquanto isso, “eu quero me esforçar ao máximo do que posso suportar, tocar no máximo shows e escrever o máximo músicas que eu puder e voar pelo mundo 10.000 vezes em um ano, me esforçando até ao ponto em que parece loucura ”, diz Mendes. “Ed fez isso e está fazendo isso – ele é apenas um movimento ininterrupto, e tem algo de tão excitante em extrair essa energia.”

Perguntado de onde vem sua motivação, confiança e forte senso de identidade, Mendes faz uma pausa por um instante e responde com uma resposta que fala de uma vulnerabilidade inesperada. “Insegurança de não estar de castigo?” Ele pensa. “Eu tenho pais incríveis e amigos incríveis, mas da mesma forma, eu fico com medo – medo de se tornar a única coisa que todo mundo diz para você não ser.”