Shawn Mendes é o garoto propaganda do pop. Seus vídeos foram vistos mais de 6 bilhões de vezes e ele tem mais de 42 milhões de seguidores no Instagram. Mas não se preocupe se você ainda não ouvir dele… apenas pergunte para um adolescente
Shawn Mendes está em pé de cueca no quinto andar do hotel em Londres enquanto 200 fãs gritam por ele do lado de fora. “Todo mundo que não precisa estar aqui, saia da sala”, ele diz educadamente mas firmemente, em um suave sotaque canadense. O atual garoto propaganda deve estar acostumado a causar uma agitação. Sua campanha #MyCalvins (seguindo os passos do Justin Bieber em 2016) quebrou a internet no início do ano, o fenômeno teen de 20 anos – três álbuns no charts do Estados Unidos, 30 milhões de ouvintes mensais no Spotify, mais de 6 bilhões de visualizações nos vídeos – está mais perto da supremacia dos tabloides e da dominação global.
No Brit Awards naquela noite, Mendes vai se encolher quando o apresentador Jack Whitehall brincar com ele sobre “pacotes suspeitos”, então é curioso ouvir ele descrever a oportunidade da Calvin Klein – e os resultados subsequentes de seus 42 milhões de seguidores no Instagram – como “um objetivo meu no topo de 2018. Tanto quanto é uma oportunidade performar em um estádio, é um grande momento para mim ficar na frente de uma câmera e tirar minha camisa. Eu não vejo um sendo menos significativo do que o outro.”
O ar está cheio de seriedade enquanto nos sentamos para almoçar no restaurante do hotel. Eu deixo escapar uma pergunta.. se ele estava usando preenchimento extra. “Não” ele diz, levantando a sobrancelha. “Essas cuecas são realmente boas.” Eles enviaram algumas para você? “Yeah, eu tenho caixas delas em casa” ele levanta a parte debaixo da blusa rapidamente e puxa o elástico da cueca antes de puxar rapidamente a camisa de volta para baixo. Você não está usando hoje? “Não agora”, ele diz timidamente, “eu deveria estar.”
A fama de Mendes e sua ambição são bastante saudáveis, com sua sensibilidade, e com o coração nas mãos como em Stitches – topo do charts no Reino Unido em 2015 – posicionando como o namorado perfeito no mundo da fantasia. Se Bieber é uma incógnita, então Mendes é a a imagem perfeita de um garoto pop. Mas é claro que essa exposição tem seu lado negativo. “As últimas 48 horas foram tão consumidas apenas lendo sobre o que as pessoas falam sobre mim (nas mídias sociais).” Ele suspira. Você tem que ler isso? “Não, mas tem algo no ser humano que faz isso. Eu estou com medo das redes sociais e como isso me afeta”, ele continua. “Está literalmente infundindo com quem eu sou.”
Em Outubro ele pediu desculpas aos seus 21 milhões de seguidores no Twitter, falando que estava preocupado que ele não estava postando coisas com o significado suficiente. “Pela primeira vez eu percebi quantas pessoas estavam ouvindo”, ele diz. Ele agora monitora quantas vezes ele fica online e tenta dar pausas regulares, usando a meditação para relaxar. “Eu não me considero vaidoso, mas eu definitivamente passo um bom tempo lendo sobre mim mesmo”, ele diz.
Ele tem três regras diárias – ir para a academia, duas aulas de canto e nunca negar uma foto com fã. Ele fez os dois hoje e tirou “mais de 200 selfies ontem”. Apesar disso, seu sucesso coincidiu com uma mudança nos escalões superiores do pop – seus expoentes recentes sendo Adele, Ed Sheeran e Taylor Swift, de quem agora é amigo. Até One Direction – que a mistura de pop para adolescentes e violão abriu caminho para Mendes – sempre sentiu que estava tentando minimizar o elemento de pop star.
“Quanto mais aberto o mundo está ficando, mais as pessoas desejam o real” ele diz. “Eu não acho que as pessoas querem ver uma pessoa inventada. No passado havia muita preparação e eu ainda acho que essa coisa é incrível – como eu usar uma camisa sem mangas – mas no final, quando se trata de você, eu acho que é sobre ser autêntico”. Apesar de toda essa conversa de autenticidade e de ser como todo mundo, eu digo a ele, você também é uma estrela pop implorando para as pessoas olharem para você. Você tem que acreditar na sua própria publicidade? “É claro”, diz ele, passando seus olhos por cima do meu ombro para a parede espelhada atrás. “Você tem que acreditar. Se você acordar todos os dias e falar: “Eu estou bem”, você estará assim. Se você acordar todos os dias e olhar para si mesmo no espelho e dizer: “Eu sou ótimo, vamos esgotar aquele estádio”, então você vai.
Você poderia dizer que ele está em treinamento motivacional há algum tempo, tendo começado como uma estrela do YouTube de 14 anos, fazendo covers acústicos de músicas (Bieber, entre outros), antes de mudar para a extinta plataforma de mídia social Vine. Ele aprendeu sozinho a tocar guitarra através de tutoriais do YouTube em casa na pequena cidade de Pickering, Ontário, enquanto uma de suas primeiras apresentações públicas foi em uma praça em Portugal, onde sua família – mamãe Karen, corretora britânica, pai Manny, O empresário português e a irmã mais nova, Aaliyah, estavam de férias. Enquanto seus pais estavam fazendo compras, Mendes pulou ao lado de uma estátua e cantou uma canção de Bruno Mars. “Eu estava suando e pensei: ‘Cara, se você quer ser cantor, precisa pelo menos ser capaz de ficar de pé nesta estátua e cantar'”, diz ele naquele momento.
De onde veio essa pressão? “Foi de mim mesmo, que é praticamente uma grande declaração sobre a minha personalidade aos 14 anos de idade.”
Enquanto ele diz que amava a escola, sua fama precoce – depois de assinar com a Island Records seu single de estreia, Life of the Party, foi lançado quando ele tinha apenas 15 anos – significava que ele estava intimidado. “As pessoas eram cruéis no começo”, diz ele, limpando a garganta e mexendo na borda de uma xícara de chá verde. “Eles só pensaram que era tão estúpido.” Ele ia para a escola toda sexta-feira para participar de eventos de influência em que estrelas da mídia social encontravam fãs que já acreditavam que eram amigos. “Eu estava tirando 1.500 selfies por noite”, ele ri. “Você aprende rápido que o que você gosta de fazer é um trabalho, mas não me guardo rancor do que faço. Eu não odeio tirar selfies.”
O sucesso foi rápido, com seu terceiro single Stitches quebrando o top 5 americano e alcançando o primeiro lugar no Reino Unido. Nesse mesmo ano, ele apoiou Swift em sua turnê em 1989. Como ele lidou? “Esta vida é mais real para mim do que qualquer coisa”, diz ele. “Se eu fosse andar pela rua e ninguém me reconhecesse, eu sentiria que algo estava errado. Quando eu era muito jovem, [a fama] transformou quem eu era. Se isso fosse torna-se normal, seria estranho para mim.”
Do lado de fora, eu digo, os outros artistas pop recentes que podem se relacionar com isso são Britney Spears ou Bieber, pessoas que tiveram problemas em crescer no centro das atenções. “Algumas vezes eu me preocupei com isso também, mas fora de tudo isso eu vivo uma vida realmente normal”, ele diz lentamente. “Você tem que fazer um esforço para carregar suas próprias malas, dirigir seu próprio carro e não ter medo do público. Eu não culpo as pessoas que ficam dentro. Eu entendo como seria assustador ir a um restaurante e comer porque você tem medo de que alguém tire uma foto sua.”
Isso é mais intrusivo que uma selfie? “Tive a sorte de os fãs estarem tirando fotos de mim comendo desde que eu tinha 15 anos, por isso estou um pouco entorpecido com isso”, ele diz, seu tom raramente se desvia de sobrenaturalmente calmo. Provavelmente existe uma conta no Instagram chamada Shawn Mendes Comendo, eu brinco (eu verifico mais tarde e enquanto não há conta, tem uma hashtag para seguir). Pode sentir como se ele estivesse sendo observado? “Sou inerentemente [ciente] disso o tempo todo.” Se alguma vez for demais, ele sai em vez de fazer uma cena. Você é uma pessoas que gosta de agradar as outras, eu pergunto? “Sim, isso é ruim?” ele sorri. “Isso pode levar ao fracasso, mas se eu falhar tentando agradar a todos, então tudo bem.”
Mendes passa um bom tempo olhando a percepção das pessoas sobre ele. Ano passado ele foi criticado publicamente por causa da Rolling Stone expressando seu arrependimento que “o lado positivo da história nem sempre é contado completamente”. Eu acredito que é por causa da parte que ele menciona maconha, um detalhe que chateou alguns fãs. “Isso não me chateia”, ele sorri. “Na verdade, eu fiquei feliz por causa disso porque é OK para eles entenderem que maconha não é grande coisa.” Ele diz que não fuma faz uns 3 meses.
Outra parte da história se concentrou em rumores sobre sua sexualidade. “Para mim é doloroso”, diz ele. “Eu fico bravo quando as pessoas assumem coisas sobre mim porque eu imagino as pessoas que não têm o sistema de suporte que eu tenho e como isso deve afetá-las.” (No final de 2017 ele postou uma história emocional do Snapchat: “Primeiramente, eu não sou gay. Segundo, não deve fazer diferença se eu era ou não era. ” Ele suspira e diz:“ Foi por isso que fiquei tão bravo, e você pode ver que eu ainda me irrito, porque eu não acho que as pessoas entendem que quando você vem até mim sobre algo que é estúpido você magoa tantas outras pessoas. Eles podem não estar falando, mas estão ouvindo.”
Ele disse que a razão dele ter criticado o artigo foi por conta de um pequeno detalhe, no qual ele mencionou Dua Lipa e seu namorado, e o quão incrível parecia ser estar apaixonado. “Me fez parecer um maníaco,” ele disse. “Se teve algo, foi que o artigo me fez perceber que sua carreira não está acabada se as pessoas pensarem que você não é perfeito”. Dá pra saber como a ideia de ser um maníaco aborrece ele, e porque essa ideia talvez pegue – grande parte dos singles de Mendes são baseados na ideia de ele ser esse garoto carente que é usado como brinquedo mas sempre volta para mais.
Você está cansado de ser O Cara Legal? Ele se adianta, limpa a garganta e ajeita a postura. “Sim, estou! Parece tão bobo – ser uma pessoa boa é a melhor coisa do mundo – mas, sim, tenho 20 anos e só quero me divertir. O que não quero fazer é viver o resto da minha vida pensando ‘Eu não posso fazer isso porque sou conhecido como o Principe Encantado’. No segundo que alguém te rotula com uma personalidade, você não quer mais ser aquela pessoa.”
Duas semanas depois, Mendes está no palco em Amsterdam. Para manter a estética floral de seu álbum, uma rosa de 15 metros está presa no palco ao tão chamado Palco-B, onde mais tarde ele fará serenatas para os/as adolescentes e seus concordantes pais com algumas músicas dançantes. Luzes no formato da rosa (20 euros na loja do merch) se ascendem conforme Mendes corre através de um imenso espetáculo de rock com gritos ensurdecedores, “Meu Deus, estou muito velha”, diz uma moça sentada atrás de mim enquanto ela grita.
Ansioso para se alinhar com o panteão dos expoentes mais sorridentes do rock, Mendes vai de um cover do hino de Coldplay, Fix you, para o seu próprio “In My Blood” com um toque de Kings of Leon, uma música que surpreendeu os fãs por falar de depressão. A noite é transformada – com a ajuda de uma explosão de fitas – em algo próximo à catarse.
“Não tem nada como estar no palco, você se sente o Superman!” alegando que é melhor do que sexo ou qualquer coisa. “Meu objetivo agora é aproveitar o que eu faço mais e mais, porque senão não importa. Eu costumava pensar que era tudo sobre a multidão, mas eu tenho que ser feliz dentro de mim mesmo.” Enquanto ele tira sua milionésima selfie, seu rosto irradiando pura euforia, você acredita que ele pode estar.